Os bovinos utilizados nas competições de laço podem estar próximos de receberem um manejo semelhante ao já praticado nos cavalos de alto desempenho
É claro que por se tratar de espécies totalmente diferentes e com funções distintas a forma como os cavalos são criados, treinados e manejados não são as mesmas dos bovinos. Mas com a evolução das modalidades de laço e a preocupação constante com o bem-estar animal, a qualidade desses animais juntamente com a maneira como são cuidados, certamente vem progredindo para uma melhora significativa.
Em todos os esportes equestres em que existe a participação de bovinos, não somente nas variadas modalidades de laço, mas também nos demais esportes como apartação, vaquejada, working cow horse, team penning e ranch sorting, a qualidade técnica da tropa, o elevado nível dos competidores e as excelentes condições de infraestrutura das pistas são alguns pontos que fazem com que a boiada utilizada tenda fortemente a acompanhar essa evolução.
Avaliações do animal quanto à maneira de correr, velocidade desempenhada, resistência durante as passadas, forma de reação após a laçada e estrutura física são utilizadas frequentemente por proprietários de boiada e organizadores de eventos; atividade essa que auxilia na qualidade e rendimento das provas, além de beneficiar os competidores, sendo imprescindível para o desempenho da prática esportiva. Entre tanto, essas avaliações não incluem os padrões zootécnicos dos animais.
Hoje no Brasil as modalidades de laço em dupla e laço individual ainda não conseguem manter uma completa padronização do rebanho em termos de escore de condição corporal, estrutura, características raciais e morfológicas. Mas, sem dúvida, a busca por esse padrão já vem acontecendo.
No laço em dupla, ao selecionar animais com chifres e sem chifres, vamos tendo uma divisão racial notória, onde é comum ter animais das raças Holandesa, Jersey ou mestiça dessas duas raças, apresentando chifres. E no gado mocho, uma predominância de animais das raças Girolando, Gir, Nelore ou anelorados e mestiços dessas raças.
Além disso, alguns pecuaristas já começam a investir em biotecnologias da reprodução, como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) para introduzirem material genético de raças de origem americana no rebanho brasileiro com o intuito de conseguir uma maior padronização do gado de chifres. É o caso dos bovinos da raça Texas Longhorn.
Já no laço individual, dificilmente vemos provas com um gado totalmente padronizado; a variância de peso, estrutura e a diversidade racial, que na sua grande maioria é composta por animais sem raça definida ou mestiços de diversas raças leiteiras, são fatores sempre presentes.
Mas, de certa, forma também vem ocorrendo uma forte tentativa de buscar a padronização do rebanho com a utilização de animais Nelores ou anelorados. Quando não, até mesmo animais oriundos de cruzamento industrial, onde são utilizadas raças zebuínas, comumente o próprio Nelore com raças europeias como, por exemplo, Braford e Hereford para obter esses bezerros.
Fato é que essa busca por um gado de maior qualidade, com melhores características e que consiga acompanhar o alto nível da tropa vem acontecendo mesmo que de maneira lenta, e com isso a exigência dos próprios animais quanto a manejo, alimentação, adaptação e cuidados também são maiores.
Com base nessa premissa e juntamente com as atuais práticas de bem-estar animal é que o esporte caminha para estabelecer tratativas de atletas para os bovinos participantes das modalidades de laço. A exemplo do que já acontece com os touros de rodeio e do que vem acontecendo com os bois de vaquejada.
Maiores cuidados com a alimentação, busca por padronização do rebanho, treinamento específico para a modalidade, implantação de biotecnologias da reprodução, uso e desenvolvimento de protetores e seleção dos melhores animais, são fortes indícios de que os bovinos participantes das modalidades de laço tendem a ser tratados e considerados como atletas. Afinal, por mais que os cavalos sejam as estrelas da festa, sem os bois o show não acontece!
Por Dr. Orlando Filho
Médico Veterinário, Tecnólogo em Agronegócio e Gestor de Equinocultura, Coordenador Técnico da ABQM
Fonte: Editora Passos
Foto: teamroper.com